Rituais de um fotógrafo em Arcos de Valdevez
Não podia falhar este ano. Ano após ano cumpro a tradição de fotografar a procissão da Nossa Senhora do Castelo em Arcos de Valdevez, regra que infelizmente quebrei no ano passado por compromissos profissionais inadiáveis.
Saio apressado, empurrado com o badalar dos sinos que anunciavam a saída da procissão e a Paula a alertar-me: “ Deve estar a sair! ”. Corro, munido com o equipamento no carro, chego à hora: “ Já saiu a procissão? ” questiono a uma devota que me alerta que a missa tinha terminado e que o Sr. Padre estava a tomar o pequeno almoço na pastelaria.

Sosseguei…aproximo-me da rua em busca da menina que todos os anos enfeita a sua janela para ver passar a Nossa Senhora do Castelo.
São mais anos que uma vida comum vê passar por si tamanha devoção. Mais de 100 anos que essa menina acumula de uma vida repleta e que eu não tinha registado no ano anterior.

Mas para minha satisfação ela continuava lá, “a Avó Sara” no enquadramento da sua janela privilegiada, rodeada de pétalas que repousavam no leito à espera de serem gentilmente lançadas à passagem da Nossa Senhora do Castelo.
Assim que me viu acenou e começou a lançar algumas pétalas anunciando-se para a minha objetiva. Fotografei o cenário composto pelos tapetes e as pétalas a esvoaçar e logo a seguir dirigi-me ao seu encontro para receber o seu sorriso que preenchia o seu canto exclusivo para ver a procissão.

“Quando passar a Senhora vou-me levantar!”, disse-me ela em jeito de desafio e de demonstração de devoção.
Mais uma foto e pergunta-me: “Quando casa a Ana?” – “16 de Junho.” Respondi eu. “Está perto”… Um adeus e lá fui continuar a fotografar a procissão.
De todos os momentos que tinha de registar em foto, aquele era o único que não poderia perder. A procissão aproximava-se da janela da “Avó Sara”.
Mais um ano em que a sua presença se funde com a genuinidade da fé…
Até para o ano “Avó Sara”.
Estas fotos, belíssimas, trouxeram de volta a minha infância. O enfeitar das ruas, as mãos no serrim, nas tintas e nas flores, o declamar de loas a Nossa Senhora do Castelo, vestida de branco e, por fim, a subida ao monte.
Depois, a D. Sarinha, amiga de peito da minha avó, que mal conheci, mas cuja amizade se estendeu ao resto da família e por quem nutro um grande carinho. Talvez não tivesse sido por acaso que a minha primeira filha se chame Sara…
Gosto
Tio Eduardo, não te consigo descrever como me senti ao ler as tuas palavras e a ver as fotos lindas da minha biza tão querida:) Os meus olhos encheram-se de água pela alegria e pela honra de a conhecermos e de privarmos com ela, é um previlégio sem dúvida.
Deixo-te aqui o meu agradecimento pelo momento e pelo carinho. Obrigada, de coração.
Beijinhos
Sara